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A importância de desenvolver relações mais empáticas e a inteligência emocional

Há acontecimentos que alteram de forma tão marcante a nossa realidade, que rapidamente descemos aos níveis mais baixos da pirâmide de Maslow*. O receio causado pela incerteza e a ambiguidade levam-nos a dar mais atenção às nossas necessidades mais primárias, as de sobrevivência e de segurança e, por consequência, também muito mais a nós próprios, que aos outros. O distanciamento físico que atualmente vivemos, que cria um distanciamento social e das relações, faz com que nos seja mais difícil compreender aquilo que os outros estão a passar e como se estão a sentir. É mais difícil ser empático.


Está documentado em diversas publicações e estudos a importância de desenvolvermos a nossa inteligência emocional. Este é um dos principais fatores de realização pessoal e de sucesso nas várias dimensões da nossa vida.


A inteligência emocional depende de quatro aspetos distintos e complementares: a capacidade de nos conhecermos e de nos gerirmos, e a capacidade de compreendermos os outros e de ajustarmos o nosso comportamento adequadamente. Para desenvolver a nossa inteligência emocional, temos primeiro de nos conhecer melhor, como pensamos, os nossos enviesamentos e ideias pré-concebidas, o que nos importa e nos move e, finalmente, como nos comportamos e comunicamos e de que forma impactamos e somos percebidos pelos outros. Em seguida, temos de tentar conhecer e perceber os outros e conseguir compreender de que forma somos semelhantes ou diferentes e que impacto essas semelhanças e diferenças têm na nossa relação como os outros. A isto se chama empatia.


A empatia é, portanto, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e compreender a sua perspetiva e emoções em relação às suas circunstâncias. Este é um aspeto essencial da inteligência emocional. Depois de nos conhecermos em relação aos outros, podemos decidir como gerirmos a nossas emoções e como agimos e reagimos com os outros.


É verdade que não temos controlo sobre muito do que se passa à nossa volta, sobretudo em circunstâncias como uma pandemia que nenhum de nós tinha experimentado. Portanto, o melhor que podemos fazer por nós próprios e pelos outros é focar a nossa energia naquilo que só depende da nossa vontade e das nossas ações. Manter o locus de controlo interno.


Ora a empatia, essa só depende da nossa vontade e capacidade. Pode ser posta em prática e desenvolvida em qualquer momento e por qualquer pessoa. O grande benefício da empatia é o de permitir compreender os outros em relação a nós e, dessa forma, conseguirmos apreciar a sua perspetiva e, mesmo não a partilhando, ser capaz de a valorizar. Ajuda-nos, sem necessariamente mudar quem somos, a ser mais tolerantes com os outros, a desenvolver emoções e energias mais positivas com aqueles com quem interagimos.


Se na prática do Coaching profissional, esta é uma das competências essenciais, sem a qual dificilmente temos a possibilidade de ajudar o nosso cliente a abrir novas perspetivas, acredito que esta é também uma competência de vida. Uma competência que nos permite viver melhor connosco e com os outros porque nos ajuda a compreender, a aceitar e a valorizar a diferença. Ao sermos mais tolerantes, podemos investir a nossa energia a construir em vez de a utilizar a defender-nos ou a lutar.


Mais do que nunca, nas circunstâncias em que vivemos, devemos canalizar toda a nossa energia de forma positiva e com propósitos claros. Dessa forma, sairemos fortalecidos deste período que se avizinha muito desafiante.


Para desenvolver a nossa capacidade de ser empáticos temos de conseguir compreender o outro lado. Mas nem sempre isso é fácil sem termos nenhuma referência ou modelo para nos ajudar no processo. Podemos com algum treino e experiência compreender a forma de pensar, as motivações e as emoções das outras pessoas. No entanto, isso exige uma vontade clara e as competências adequadas. Uma das dimensões que causa mais fraturas nas interações e relações humanas é a do comportamento e da comunicação – como nos apresentamos e como somos percebidos pelos outros. Quantas vezes pessoas que partilham os mesmos valores e motivações têm tanta dificuldade em comunicar e se entenderem? Quantas vezes o que está em causa nas discórdias, não é tanto o conteúdo, mas o tom e a forma?


Todos nós temos uma forma preferida de estar e comunicar – o nosso estilo comportamental. É nas diferenças entre estilos comportamentais que reside muitas vezes a razão dos desentendimentos, das distintas compreensões sobre o mesmo tema e que se desenvolve a intolerância.


Quando conseguimos conhecer bem o nosso estilo comportamental e desenvolvemos a capacidade de perceber o estilo das pessoas com quem interagimos, temos as bases para conseguir desenvolver empatia e a nossa inteligência emocional. Estas capacidades podem ser desenvolvidas de forma individual ou em grupo, idealmente com pessoas de uma mesma equipa, numa experiência coletiva, dado que desta forma cada um de nós consegue conhecer-se melhor a si próprio, em contraste com os outros.


Os benefícios deste tipo de experiências tendem a ser imediatos, dado que muitas pessoas, que por vezes trabalham anos juntas, vêem-se umas às outras pela primeira vez de uma perspetiva diferente. No entanto, de forma a incorporar esta aprendizagem no dia a dia e alterar de forma fundamental os comportamentos e dinâmicas numa equipa é necessária intenção e prática continuada. Os resultados a médio e longo prazo do desenvolvimento de relações mais empáticas são muito positivos, porque permitem aos indivíduos e equipas estarem mais focados em relações e dinâmicas construtivas e nos resultados coletivos, do que em atitudes defensivas e individualistas.


Esta pandemia, tal como todas as crises anteriores irá ser ultrapassada.

Na fase de transição que vivemos, todos nós sentiremos emoções que não conhecíamos, formas de estar e viver que ainda não tínhamos experimentado, e veremos as nossas relações com familiares, amigos, colegas e clientes postas à prova. Depende exclusivamente de cada um de nós decidir como quer sair desta fase, e como pode aproveitá-la para construir relações mais profundas, positivas e construtivas através da empatia.


Frederico Carvalho, vice-presidente de Membros da ICF Portugal



*: Abraham Maslow foi um psicólogo norte-americano, conhecido pela Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas que define cinco categorias de necessidades humanas: fisiológicas, segurança, afecto, estima e as de autorrealização

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