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Teletrabalho: não há bela sem senão…

Uma das inúmeras consequências que o vírus Covid-19 nos trouxe foi o aumento do teletrabalho. Na atual fase, alguns de nós ainda trabalhamos exclusivamente a partir de casa, outros já regressámos ao escritório. Noutros casos, surgiram soluções híbridas – certos dias em casa, outros dias na empresa. Algumas empresas, satisfeitas com os resultados, admitem não querer regressar à forma tradicional presencial. Qual o balanço que fazemos sobre esta realidade? Existem mais pontos a favor ou contra esta forma remota de prestar a nossa atividade profissional?


As opiniões multiplicam-se, as sensibilidades “picam-se”. Uma coisa parece ser unânime, em matéria de teletrabalho: não há bela sem senão…


A Bela

Existem inegáveis vantagens em poder trabalhar a partir de casa. A vida, para alguns, parece ter-se tornado mais flexível, conseguimos levar os miúdos à escola, às consultas, dar um saltinho ao supermercado… Alguns de nós podemos ter a sensação de que a vida voltou a ser mais nossa, eu decido quando, a que horas e de que forma entrego o trabalho ao meu chefe, aos meus clientes… Nem sequer temos de nos preocupar tanto com o que vamos vestir ou como nos vamos apresentar.

Existem, também, consequências relevantes do ponto de vista financeiro. Gastamos menos dinheiro em gasolina/transportes públicos/ estacionamento, menos refeições fora de casa (para quem as fazia fora).

Parece ou é?

Com o teletrabalho, a vida pode parecer ser mais simples, mais flexível, mais nossa, mas chega – efetivamente – a sê-lo? Não poderá existir aqui uma questão de aparência, quase de auto-ilusão?

Muitos profissionais admitem que, nesta fase, reorganizaram a forma como entregam o trabalho, o que por vezes implica enviar e-mails a horas mais tardias e trabalhar até mais tarde.

Somos, efetivamente, mais donos do nosso tempo, dos nossos horários, do nosso planeamento? Se tivéssemos um termómetro neste momento, qual seria a temperatura da esfera da integração das nossas vidas pessoal e profissional? Ainda conseguimos definir onde começa uma e acaba a outra?


O senão

A noção de espaço, já o sabemos, vem do nosso cérebro antigo. O meu espaço, o teu espaço, os diferentes espaços com diferentes funções. Com o teletrabalho, as noções de espaço, de tempo (também) poderão na prática tornar-se mais dispersas, difusas. Em alguns casos, posso trabalhar a qualquer hora ou lugar, desde que entregue o trabalho feito. Posso enviar um e-mail às 08:00h da manhã ou às 02:00h da madrugada, desde que cumpra o prazo.

Quando a consequência é a flexibilização horária, esta tem impacto direto na perceção do chefe/cliente sobre quando o trabalho deveria ser entregue. Se é flexível, poderá ser entregue a qualquer momento, a qualquer hora. E a culpa não é do chefe/cliente, aliás – na sociedade de consumo em que vivemos – todos somos, simultaneamente, prestadores e clientes de algum tipo de serviço.

Também a própria dinâmica do trabalho em equipa deve ser equacionada, tendo em conta a organização sistémica à distância, a passagem do conhecimento e o perigo de perdas de informação.


O contributo do coaching

A realidade do teletrabalho já existia muito antes da pandemia (já sendo adotada por inúmeras empresas) e continuará a existir e a progredir.

Como em tudo na vida, parece não existir a resposta simplista sobre os seus benefícios ou prejuízos. Não obstante, caso abdiquemos de lhe dedicar algum tempo de reflexão, colocamo-nos “a jeito” para que alguém decida por nós (um chefe, o responsável de RH, um cliente, etc.). Mais do que uma resposta preto no branco, os tempos atuais poderão beneficiar de soluções criativas, que privilegiem a integração das vidas pessoal e profissional e preservem o funcionamento das equipas. Se bem delimitados os seus contornos, com a necessária articulação com as organizações, a flexibilidade poderá ser muito benéfica.


Com este intuito, o coaching poderá ser uma ferramenta útil, de tomada de consciência sobre qual a minha opinião sobre este tema. De questionamento, primeiro, para depois poder passar à fase do posicionamento. Precisamente porque o coaching não pretende dar as respostas, mas sim levar o cliente a descobrir qual a solução mais adequada para si e como colocá-la em prática.


Para que possa pegar nas “Belas” e nos “Senãos” e construir o melhor cenário para a realidade do nosso dia-a-dia.



Por Inês Raposo, Coach, Membro do Comité de Marketing e Comunicação da ICF Portugal

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